Postado em 20 de Janeiro de 2020 às 08h50

Tampinhas do bem!

Resp. Ambiental (35)

Em vez de irem para o lixo, tampas de plástico subsidiam ações de proteção animal em iniciativas de ONGs e associações Brasil afora

Por Angela Piana

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam no Brasil mais de 30 milhões de animais abandonados, entre cães e gatos. Além das condições precárias em que vivem, o problema também expõe as pessoas ao risco de transmissão de doenças, ataque dos animais e até acidentes de trânsito.

O foco para a solução deste problema tem se concentrado em iniciativas sociais como campanhas de vacinação, castração e adoção. A maioria delas é custeada por doações, por meio de projetos que arrecadam dinheiro com a venda de produtos recicláveis. A mais conhecida é a coleta de tampinhas plásticas. Em todo país, mais de 50 cidades mobilizam voluntários através de associações e ONGs (Organizações Não Governamentais) para arrecadar fundos e custear ações de proteção animal.

Todos as ações de coleta e venda de tampinhas plásticas Brasil afora foram inspiradas em um projeto gaúcho: Engenharia Solidária, iniciado em 2015 em Caxias do Sul/RS, pela estudante de doutorado em Engenharia dos Materiais, Laricy Amaral, que queria ajudar os animais em situação de abandono na cidade. Aos poucos, o projeto foi ganhando adeptos, se transformou em uma ONG e, com a ajuda das redes sociais, se espalhou para outras cidades.

No início, o projeto destinava o dinheiro das vendas das tampinhas para ONGs de combate a maus tratos de animais. Atualmente, a renda também é destinada para a compra de ração, cujo alimento é doado para uma ONG que acolhe animais abandonados e para outros 40 protetores independentes. São doados em média 1.700kg por mês de ração para gato e cachorro.

A presidente do projeto Engenharia Solidária, Rejane Rech, explica que são arrecadadas 3,5 toneladas de tampinhas por mês, as quais são vendidas para duas empresas recicladoras por R$ 2 ao quilo.

“É muito gratificante ver que as pessoas se envolvem, porque é mais fácil jogar fora a tampinha, mas se levarmos até um ponto de coleta, podemos ajudar os animais”, destaca Rejane. 

Além do recolhimento das tampas plásticas, a ONG também desenvolve uma vez por mês, ação de coleta de eletroeletrônicos, cuja venda é revertida para castração de animais. Uma parceria foi firmada com uma clínica veterinária que realiza os procedimentos com custo mais baixo que o valor de mercado.

“Hoje nós somos em 65 voluntários, cada um contribuindo como pode. O importante é estar sempre em movimento, sensibilizando as pessoas para que a gente consiga gerar renda para poder realizar as ações. Também estamos disponíveis para orientar aqueles que querem implantar o projeto em suas cidades”, ressalta a presidente.

Cada animal precisa de 100kg de tampinhas

O trabalho que transforma tampas plásticas em auxílio animal é desenvolvido por voluntários, não somente em associações, mas por pessoas que coletam em seus ambientes de trabalho, instituições ou em condomínios.

A mobilização social pela causa vem rompendo divisas e ganhando adeptos em várias cidades brasileiras. Em Florianópolis/SC, desde o ano passado, a ONG Ecopet ajuda animais em situação de rua com recursos arrecadados com as tampinhas coletadas em 557 pontos espalhados entre a capital catarinense e cidades vizinhas. O projeto foi inspirado na ONG Engenharia Solidária e idealizado pela engenheira de produção, Natália Carvalho Nardi, e pelo encarregado de pessoas, Lisandro Nunes Ferreira, que é o presidente da ONG.

Todo material coletado fica armazenado na casa dos 50 voluntários que fazem a separação por cor, embalam, armazenam e depois encaminham para a reciclagem. O número de castrações depende do valor arrecado com a venda do mês anterior e pode variar de acordo com as solicitações, já que o valor cobrado pelas clínicas veterinárias parceiras é de acordo com o peso do animal.

“Para castrar um animal de 16kg, por exemplo, são necessários 100kg de tampinhas. Além disso, nós também fornecemos 50 castrações todo mês em mutirões realizados por protetores”, explica o presidente ao reforçar o que representa o trabalho para a sociedade.

“A gente ama muito essa causa. É muito trabalhoso, mas vale a pena pelo bem que representa aos animais e ao meio ambiente”.

Uma iniciativa semelhante é desenvolvida em Chapecó/SC. O Tampets começou em 2018 a partir da iniciativa das amigas Aline Lusa, arquiteta e Marlise Cavalheiro, empresária. As duas têm a paixão por ajudar animais abandonados.

“Sempre ajudei animais que apareciam próximo da minha casa. Dava comida, água, fazia um abrigo improvisado e tentava doar para que tivesse uma família que o cuidasse. A Marlise tem esse mesmo sentimento, por isso estamos neste projeto até hoje”, explica Aline.

Atualmente, o Tampets tem 20 pontos de coletas onde são arrecadadas tampas plásticas de qualquer tamanho e cor. O material coletado fica armazenado na casa de Aline e depois é vendido para recicladores. O valor arrecadado é destinado à castração de animais de rua e tem como meta realizar o procedimento em pelo menos dois animais por mês, em clínicas veterinárias parceiras do projeto. Neste ano, 19 animais foram castrados, o dobro do ano passado.

Aline explica que é necessário um esforço muito grande para conseguir os recursos, devido à quantidade grande de tampinhas necessárias para a castração.

“Se cada pessoa pudesse ajudar um animal que está abandonado ou de família carente, não haveriam tantos animais precisando de ajuda. Um jeito simples é doando tampinhas”, clama a voluntária.

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