Postado em 23 de Julho de 2019 às 10h29

Vegetarianismo, sustentabilidade e saúde humana

Educação Ambiental (23)

Atualmente quase 30 milhões de brasileiros se consideram vegetarianos. O estilo de alimentação ganha adeptos com diferentes pontos de vista, mas com objetivos em comum: promover a sustentabilidade do mundo e a saúde humana

Por Tuanny de Paula

Nos dias de hoje a alimentação é um dos principais assuntos discutidos quando se trata da saúde humana. Porém, além da saúde, ela passou a ser pautada para a sustentabilidade do meio ambiente. Nesse caminho, o estilo de alimentação vegetariano e vegano passou a ganhar espaço e adeptos, que tomaram a decisão a partir de diferentes critérios.

O novo estilo de vida causou e ainda causa tanto alvoroço que é tema de diversos estudos acadêmicos, tanto entre aqueles que defendem o consumo de carne e os que defendem que o humano não precisa dela para manter-se saudável. No meio disso, a preservação do meio ambiente se torna o principal argumento dos defensores da causa, que acreditam que o não consumo de carnes auxilia na redução de gases do efeito estufa, entre outros benefícios a natureza.

Conforme o livro ‘Comendo o Planeta: impactos ambientais da criação e consumo de animais’, os impactos ambientais da atividade humana estão intimamente relacionados com nossos hábitos de consumo, principalmente nossos hábitos alimentares. “Somos sete bilhões de seres humanos, mas todos os anos criamos e abatemos mais de setenta bilhões de animais terrestres e uma quantidade muito maior de animais aquáticos para nosso consumo”, explana a publicação.

O publicitário, Alan Ricardo Dal Pizzol, é vegetariano há seis anos. “Por volta dos 17 anos eu comecei a ter um pouco de pena de matar animais pra comer, e isso me levou a procurar grupos no Facebook pra entender mais sobre”. Nos conteúdos sugeridos pelos grupos online sobre vegetarianismo e veganismo, ele conta que o livro "A Política Sexual da Carne”, da autora Carol J. Adams era um dos mais indicados. A obra fazia a relação entre o patriarcado e o carnivorismo. “Esse livro expandiu muito a maneira como eu entendia o consumo de carne na sociedade, também me trouxe o conceito de referente ausente - quando o produto final é propositalmente desligado do animal para não causar pena - e este foi o primeiro contato mais presente com a causa, me deixando com consciência sobre o consumo e me decidindo a não voltar a consumir”, explica.

Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) de 2018, o desenvolvimento sustentável é aquele que leva as gerações futuras em consideração, preservando hoje os recursos naturais, tais como solo, água e biodiversidade, a fim de garantir que as gerações futuras tenham acesso a esses recursos. E o Food Climate Research Network (FCRN) de 2014, coloca que uma dieta sustentável leva em consideração os seguintes parâmetros: valor nutricional, meio ambiente, economia, ética e distribuição dos alimentos. 

Considerando que o atual sistema de produção de alimentos, principalmente a pecuária e a produção de alimentos destinada à pecuária, estão intimamente ligados com a degradação do meio ambiente, a mudança no padrão alimentar é uma importante ferramenta para garantir o desenvolvimento sustentável do planeta, tendo em vista o contínuo aumento populacional, conforme explica a doutora em medicina e especialista em vegetarianismo da UFRGS, Divair Doneda.

“Nesse contexto, a dieta mais sustentável, em termos de uso de terra e recursos, é a vegetariana, uma vez que, quando comparada à dieta onívora, utiliza menos área de terra, água e, além disso, não satura o solo”. 

Mas como se manter saudável com uma alimentação vegetariana? 

De acordo a posição da American Dietetic Association, com a Academy of Nutrition and Dietetics (2016), quando bem planejada, a dieta vegetariana, independentemente do tipo de vegetarianismo (ovo/lacto ou vegetarianismo estrito), pode ser apropriada em todas as fases do ciclo da vida, incluindo gestação, lactação, infância, adolescência e para atletas. Essa, quando balanceada, atende às recomendações nutricionais, inclusive de nutrientes em que se tem maior preocupação quando se trata de vegetarianos, como proteína, ômega 3, ferro, zinco, cálcio e vitamina D.

“Temos como exceção a vitamina B12, pois essa só está presente em alimentos de origem animal, portanto deve ser suplementada de acordo com orientação de um médico ou nutricionista. Mas engana-se quem pensa que a deficiência de vitamina B12 é específica de vegetarianos. Existem estudos que encontraram expressivo percentual de deficiência dessa vitamina em onívoros, percentual este que aumenta de acordo com a faixa etária estudada. Além disso, a dieta vegetariana fornece benefícios à saúde na prevenção e tratamento de diversas doenças”, explica Divair.

Antes de optar por esse estilo de alimentação, Alan seguia uma dieta onívora como a maioria da população, churrasco nos finais de semana, quase todos os dias um embutido ou alguma refeição com carne. “Após mudar, a primeira diferença é que você não se sente mais estufado após comer. Em uma dieta vegetariana balanceada os alimentos geralmente são mais fibrosos, o que torna a digestão mais rápida, então me senti mais disposto”, destaca.

Quem também seguia uma dieta onívora era Maryna Dahmer. A jornalista tinha uma alimentação baseada na carne, com pouca diversidade de outros tipos de alimentos. Após entrar na universidade em 2015, conheceu pessoas que eram vegetarianas e veganas e descobriu um pouco mais sobre a dieta, para além do que via na TV. “Decidi parar de comer carne no segundo semestre da faculdade. Eu senti que meu corpo começou a responder melhor, pois antes sempre me sentia cansada e com pouca energia”, lembra ela.

Assim, os principais cuidados dos vegetarianos consistem em ter uma dieta planejada, de preferência com orientação de nutricionista. A alimentação deve ser variada e contemplar alimentos que forneçam todos os macronutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios e fibras) e micronutrientes (vitaminas e minerais) necessários a uma dieta saudável.

“Não é necessário pensar em substituição da carne, e sim, que os alimentos de origem vegetal, consumidos em quantidade e combinações adequadas, são capazes de fornecer todos os nutrientes necessários à manutenção da saúde. Para isso, a composição da dieta deve ser variada e a ingestão calórica adequada”, indica a profissional.

As principais fontes de proteína de origem vegetal são encontradas nos grupos das leguminosas (ex: feijão, ervilha, lentilha, grão de bico e amendoim), dos cereais (ex: trigo, arroz, aveia) e das frutas oleaginosas (ex. amêndoas, nozes, castanhas).

Novos olhares sobre a agricultura

Com os diversos estudos e discussões acerca dos impactos ambientais causados por uma demanda maior por terras, a agricultura precisou reavaliar os seus processos de plantio. As boas práticas agrícolas, de forma a atender os altos níveis de produção sem causar mais devastação ambiental e desequilíbrio ecológico passou a ser pautada pela sustentabilidade.

Quem dá exemplo quando se trata do assunto é o Estado de Santa Catarina, que consegue aliar produção agrícola e preservação ambiental. Um estudo realizado pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), comparando os números do Censo Agropecuário de 1980 e 2017, demonstrou as mudanças que ocorreram na área agrícola do estado em quase 40 anos. Santa Catarina conseguiu se tornar um gigante do agronegócio brasileiro, aumentando a produtividade, reduzindo a área de lavouras e cuidando das florestas nativas. Hoje, a mata nativa ocupa 26,2% da área das propriedades rurais catarinenses, o maior índice desde 1970, início da série histórica e quando começou a expansão agrícola no estado.

Atualmente, as propriedades rurais ocupam 67,3% do território catarinense, são 6,4 milhões de hectares destinados à produção agropecuária. Dessa área, 40,4% estão cobertas de florestas nativas ou plantadas (2,6 milhões de hectares); 28,4% são utilizadas para pastagem (1,8 milhões de hectares) e 22,9% para lavouras (1,5 milhão de hectares).

“Santa Catarina mostra que é possível produzir mais alimentos e diminuir a pressão sobre os recursos ambientais. A nossa intenção é fazer com que a produção agropecuária ande de mãos dadas com a preservação ambiental. Essa transformação observada no meio rural catarinense tende a ser cada vez maior. A expectativa é de que a produção de alimentos aumente ainda mais nos próximos anos, em áreas menores e com florestas nativas mais extensas”, explica o Secretário da Agricultura e da Pesca, Ricardo de Gouvêa.

Segundo análise da Epagri/Cepa, houve uma redução na área total de lavouras e pastagens nas últimas décadas no Estado. Ao mesmo passo que as terras ocupadas com matas nativas e plantadas vêm aumentando ao longo do tempo. Hoje, Santa Catarina tem uma cobertura 20% maior de mata nativa do que nos anos 80, com 278,8 mil hectares a mais de vegetação natural. Sem contar a área destinada às florestas plantadas, que também aumentou 145,4% no mesmo período.

De acordo com o analista da Epagri/Cepa, Luiz Toresan, a tendência é de que as áreas de floresta nativa aumentem ainda mais ao longo dos anos devido à regeneração de novas áreas e também à legislação que impede o desmatamento em áreas maiores.

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