Postado em 22 de Dezembro de 2017 às 10h23

Do lixo ao luxo

Resp. Ambiental (35)

O processo de reciclagem dos metais nobres envolve alta tecnologia, fazendo com que muitas empresas brasileiras esbarrem na falta de técnica.

Por Samara Grando

Metais nobres são todos os metais resistentes à corrosão e à oxidação, átomos que apresentam dificuldade de reagir quimicamente com outros elementos. São considerados metais nobres o ouro, a prata, a platina, o cobre, o ródio, o paládio e o mercúrio. “De uma forma geral, classificam-se como metais nobres os elementos que pertencem às famílias B, sendo, portanto, considerados elementos de transição na tabela periódica”, afirma a engenheira civil Ana Cláudia Milani Solvalagem.

É muito comum, por exemplo, vermos uma palha de aço oxidar, corroer-se e mudar de cor na cozinha, o que não acontece com uma aliança de ouro. Assim, os metais nobres apresentam uma maior durabilidade em comparação aos outros metais. O ouro pode ser reutilizado inúmeras vezes, é um material forte que pode ser encontrado in natura e até em peças de aparelhos eletrônicos. Além do ouro, é possível extrair cobre, bronze, alumínio, aço e ferro. A maior relevância, entretanto, está nos metais raros, que têm valor de mercado muito mais elevado que o próprio ouro.

O processo, porém, envolve alta tecnologia e muitas empresas brasileiras esbarram nessa falta de técnica. Como resultado, fazem apenas o processo inicial de separação dos materiais em solo nacional e exportam as placas de circuito impresso, que concentram a maior parte dos metais de valor, para indústrias de países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e China.

Para o sociólogo e autor do livro Os Caminhos do Lixo, Márcio Magera, a falta de interesse das indústrias neste setor também segue uma lógica mercadológica. “É mais fácil e barato comprar a matéria virgem do que criar uma indústria que exige equipamentos. Uma indústria média gira em torno de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, mas se considerarmos que o material é nobre, o retorno é grande”, explicou em uma entrevista concedida à Rede Globo.

O processo de reciclagem traz inúmeras vantagens: preserva o meio ambiente, reduz o consumo de minerais não renováveis, economiza energia e aumenta a vida útil dos aterros sanitários.

Esses tipos de metais são 100% reutilizáveis e em número ilimitado de vezes. Boa parte do alumínio destinado à reciclagem, por exemplo, é proveniente das embalagens, em especial latas de bebidas. As latinhas recuperadas são transformadas em lingotes que, posteriormente, são empregados na fabricação de novas latas ou vários utensílios como arames, partes de automóvel, dobradiças, maçanetas e muitos outros. No Brasil, o processo de reaproveitamento do alumínio é bastante praticado, principalmente por cooperativas de reciclagem e catadores de resíduos, portanto, o benefício da reciclagem é vantajoso tanto para as indústrias quanto para o coletor que, muitas vezes, depende disso por falta de oportunidade.

Nos resíduos eletrônicos como computadores, celulares e placas mães é fácil encontrar os metais nobres, em especial o ouro. O descarte indevido e pouco conhecimento da população faz com que esses produtos que não são mais utilizados sejam desprezados sem aproveitamento. “Para quem não sabe, as diversas placas com circuitos que nossos computadores possuem, têm pequenas quantidades de ouro, assim como alguns componentes de automóveis e outros equipamentos de informática ultrapassados”, explana a engenheira. Isso acontece porque o material é um excelente condutor, permitindo a otimização de qualquer circuito. Depois que estes equipamentos são descartados, eles são fragmentados e fundidos, e os metais são separados. O ouro também é separado dos outros metais e, após passar por um processo de purificação, pode até voltar a ser moldado em barras e vendido a valores bastante próximos do ouro mineral.

O processo de reciclagem traz inúmeras vantagens para quem adota esse procedimento: preserva o meio ambiente, reduz o consumo de minerais não-renováveis, economiza energia e aumenta a vida útil dos aterros sanitários. Entretanto, o alto valor dos metais abre oportunidade para um mercado ilegítimo, através da venda ilegal, o que ocorre, especialmente, com o cobre.

Mercado clandestino

Revista Servioeste Saúde e Meio Ambiente Mercado clandestino Furtos de fios de cobre da rede elétrica são cometidos por todo o território nacional. Este tipo de crime gera não apenas o ônus financeiro, mas...

Furtos de fios de cobre da rede elétrica são cometidos por todo o território nacional. Este tipo de crime gera não apenas o ônus financeiro, mas transtorno a toda a população. “A média dos últimos dois anos é de 62 ocorrências por mês, em Santa Catarina, que corresponde a duas ocorrências diárias. A Grande Florianópolis é a região com maior incidência de furto de condutores, com 60% do total registrado no estado, uma média diária de 1,2 ocorrências. Pode ser um número alto, mas este índice vem reduzindo ano a ano, principalmente pela substituição dos cabos furtados pelos de alumínio, cujo valor comercial é menor”, destaca o engenheiro civil Adriano Luz, chefe da Divisão Técnica da Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A (Celesc).

Quando o furto ocorre, a Celesc é acionada pelos clientes através dos diversos canais, como o Call Center, pois a subtração do material gera interrupção no fornecimento de energia. Uma equipe é alocada para reposição dos produtos, para restabelecer o fornecimento de energia. “Os cabos são furtados de diversas formas, desde o ramal de entrada da unidade consumidora, que é de responsabilidade do cliente, passando pela rede da iluminação pública, que é de responsabilidade das prefeituras municipais, até as redes de baixa e alta tensão que são de responsabilidade da Celesc”, afirma o engenheiro, lembrado que essa prática, além de prejudicar o fornecimento de energia, é muito perigosa, o que pode ser fatal na hora da retirada dos fios.

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